Por José Luciano Monteiro Cunha, publicado originalmente em LinkedIn.
A pandemia do COVID19 escancarou diversas desigualdades socioeconômicas, culturais e digitais. Durante a migração para aulas online, milhares de crianças não tinham acesso aos conteúdos com a devida qualidade, pois faltava internet com disponibilidade e velocidade adequadas. Ainda assim, aos trancos e barrancos, alguns conseguiram assistir as aulas com WiFi emprestado do vizinho, do shopping, e das ruas.
Quando falamos em saúde digital, uma das grandes preocupações é evitar a exclusão digital, levando a um cenário ainda mais desigual entre aqueles que possuem recursos financeiros, e os que dependem de auxílios para sobreviver.
Uma pesquisa com mais de 1700 pessoas realizada nos EUA pelo Bipartisan Policy Center (BPC) revelou que cerca de 40% das pessoas entrevistadas tinha experimentado a telemedicina em 2020. Contudo, dentre as barreiras, as tecnologias dominaram as reclamações.
Cerca de 45% avaliaram que a tecnologia utilizada, incluindo a velocidade de internet e dos computadores era uma barreira importante para a continuidade do serviço de telessaúde, principalmente para aqueles que moram em regiões distantes de grandes centros, regiões rurais ou que possuem idade maior que 60 anos.
Na pesquisa, também foi surpreendente o achado de 25% das pessoas que não moravam em zonas rurais relatando dificuldades com a velocidade de internet e banda. Lembrem-se que estamos falando de um país de primeiro mundo, com um nível maior de acesso a tecnologia.
Para que a telemedicina e a saúde digital realmente se desenvolvam de maneira sustentável, é necessário que os prestadores públicos e privados pensem em como melhorar o acesso a tecnologia, com internet de qualidade.
Atualmente, podemos dizer que internet faz parte das necessidades básicas de infraestrutura da sociedade, como água potável, e energia elétrica. Políticas públicas baseadas em leis ou parcerias público privadas destinadas a facilitar o acesso a internet de alta qualidade, podem ser uma saída para evitar as disparidades.
Enquanto isso não chega, faz parte do nosso dever como gestores ligados a área de saúde e tecnologia manter os olhos atentos para que no futuro possamos ter um mundo menos desigual em todos os ambientes da sociedade, seja no físico ou no digital.
Sobre o autor
José Luciano Moreira Cunha é Médico Neurologista e atua como Diretor Médico de Digital Health na Hapvida, Head of Telehealth and Digital Health Solutions na Maida.health, Coordenador do Comitê de Telemedicina da Abramge, e Consultor.
Para ver a publicação original no LinkedIn: https://www.linkedin.com/posts/jos%C3%A9-luciano-monteiro-cunha-660341136_saaeqde-digital-covid19-activity-6858779422875635712-i60k
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